segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

gênio criminoso

Faz tempo que não dou as caras por aqui. Mas como todos sabem, o bom filho sempre à casa retorna. Eis então o impasse: como voltar? Voltar em grande estilo é o que todos sempre buscam, mas para isso tem de se pensar e esperar o espírito falar. Pois bem, não foi o caso. É, seria isso até eu assistir o filme da madrugada de ontem na GloboShattered Glass.
Como filme que é, a obra é no máximo interessante, nada brilhante. Basta ver sua premiação que se resume a uma série de indicações a prêmios como o Globo de Ouro. Contudo, um detalhe fez dele um evento em minha rotina: fatos reais. É, isso mesmo, aquele ‘‘baseado em fato reais’’ que aparece somente no fim. A partir daí, o filme deixou de ser uma desculpa à insonia e passou a integrar meu interesse real, deixou de ser um filme e passou a ser uma história, digna de expansão em pesquisas pela rede. Assim, depois de confirmar e ler mais a respeito, decidi trazer à vossa luz o fato.
O filme é baseado no livro The Faboulist, escrito por seu protagonista que como claro anti-herói, também fez o papel principal nos cinemas. Tanto o livro quanto o filme, produto do primeiro, abordam a história de Stephen Glass, ex-jornalista, advogado e comediante americano consagrado por sua conduta criminosa durante a pós-adolescência. Ainda como jornalista, o jovem de 23 anos era um fenômeno, máquina de artigos fantásticos que enchiam e faziam vender as consagradas revistas americanas The New Republic, GQ, Rolling Stone, Harper's e George. Foi brilhante enquanto durou, ou melhor, até meados de 1998 quando Adam Penemberg, repórter da Forbes, descobriu toda a farsa. Depois de levar um belo sabão de seu editor por não ter coberto um suposto furo de Glass, Adam resolveu investigar e não achou nada. A reportagem em questão foi entitulada Hack Heaven e saíra na The New Republic com grande repercussão. Tratava-se do caso de um hacker que após ter invadido o sistema de uma grande empresa foi chamado a integrar a corporação. Fantástico, mas fantasma. Adam P. não achou nenhum dado a respeito do hacker e muito menos da Jukt Micronics, empresa citada no artigo. Além desses, muitos outros dados foram forjados por Glass que mesmo com a corda no pescoço, conseguiu sustentar por algum tempo suas mentiras criando websites, endereços eletrônicos e telefones das instituições e pessoas de seu conto. Quando descoberto, seu mundo caiu e todas as outras fraudes vieram à tona. Após apurada investigação, descobriu-se que, dos 41 artigos publicados pelo suposto prodígio na The New Replubic, 27 eram falsos ou parcialmente inventados. A grande pergunta é: como ele conseguiu burlar tantas vezes o exigente processo de revisão das revistas americanas que além de revisarem os textos também conferem fontes e fatos? Carisma. Essa é a resposta. O jovem, querido por todos e de natureza extremamente cômica, gozava de grande confiança e respeito dentro das redações em que trabalhou. Mas isso não foi o bastante para abafar o escândalo. Glass foi demitido.
Depois disso, Stephen Glass abandonou a carreira jornalística e se formou em direito na faculdade de Georgetown - Washington D.C. Hoje, além de advogado, ele é comediante da aclamada compania Un-Cabaret.
Sim, esse é mais um episódio bizarro da peculiar mente humana. Mas antes de criminoso, devo admitir que Glass foi um gênio. É bem verdade que não soube aplicar esse dom ao bem, mas, mesmo assim, podemos falar sem ressalvas que deu uma boa história.

E mais. Me rendeu um bom retorno ao ¡AidiAs!

Gabriel Vasconcelos para o ¡AidiAs!

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